“O segredo é a união de fundadores e herdeiros”, diz Thereza Verona Tondo

Gabriela Marcon
gabi.marcon@idefamiliar.com.br


O que a literatura traz a respeito da importância do papel das mulheres nas empresas familiares – a transmissão de valores, a orientação na carreira dos filhos e a mediação de conflitos – se personifica em Thereza Verona Tondo que, aos 88 anos, continua atuando na empresa da qual foi sócia-fundadora, hoje como presidente da empresa. Nascida em Vila Jansen, distrito do município de Farroupilha, dona Thereza conta que, desde jovem, sabia que não queria ficar no interior. Mesmo com o desejo de ser professora e tendo recebido incentivo para seguir nessa profissão muito valorizada à época, ela optou por outro caminho, pois tinha aptidão para trabalhar no comércio e na indústria, herança do ofício dos pais.

Sendo assim, mudou-se para Caxias do Sul em 1945, aos 15 anos de idade, para continuar os estudos no Internato do Colégio São Carlos, das Irmãs Scalabrinianas, onde residiu e fez curso de Técnico em Contabilidade. Em 1951, dois meses antes de conhecer o empresário Dalvino Aldo Tondo, com quem viria a se casar, ela se tornou a primeira mulher registrada no Conselho Regional de Contabilidade. Ao saber que a jovem já estava formada em Contabilidade, Dalvino a procurou e, segundo Thereza, foi amor à primeira vista. “Ele queria casar com uma mulher de confiança para lhe ajudar nos negócios. E perguntei se ele estava casando com a pessoa ou com o título (de contadora). Ele respondeu que com os dois”, recorda, com alegria.

ALINHAMENTO DE PROPÓSITOS

No retorno da lua-de-mel, em 1953, dona Thereza lançou, ao lado do marido, a pedra fundamental do moinho de trigo na localidade de Pinto Bandeira, já ficando responsável pela gestão contábil e financeira. Até hoje, ela guarda os livros de contabilidade da empresa e afirma que sempre teve o mesmo objetivo de vida do esposo: trabalhar e construir um futuro para os filhos estudarem em bons colégios, dando-lhes formação acadêmica.

Ela abdicou do papel de dona-de-casa, comum às mulheres de sua geração, para ajudar na administração do negócio familiar, ao mesmo tempo em que criava e orientava a educação dos cinco filhos. Dedicada à família e à empresa, entusiasmou os filhos e, mais recentemente, os netos a estudar e a seguir a profissão que escolhessem. “Quando eles começam a crescer, a entrar para a faculdade, é preciso perceber quem tem vocação para continuar com o negócio. Tem de ser espontâneo, nunca obrigá-los a trabalhar na empresa da família, pois isso não funciona. O papel dos fundadores é harmonizar as diferenças entre os herdeiros”, ressalta.

Dessa forma, a operação dos empreendimentos familiares foi dividida, pois nem todos os filhos apresentavam a tendência de trabalhar na indústria de alimentos da Orquídea. “Minha mãe sempre estimulou o bom convívio entre as pessoas. Lembro dela preparando, aos sábados, café da manhã para os meus amigos. E já faz um tempo que todas as quartas-feiras a família se reúne para almoçar na casa dela”, diz Rogério Tondo, diretor-superintendente da Tondo S/A, detentora da marca Orquídea.

Dona Thereza revela que o marido demorou a “entregar o bastão” ao filho, sendo que o maior sentimento dele era não ter estudado numa universidade. “Eu dizia que não é a faculdade que ensina uma pessoa a administrar. A pessoa, geralmente, nasce com aquele instinto”, acrescenta. Com sabedoria, ela ensina mais uma lição preciosa: “A minha história é de muito trabalho e paciência. O que destrói uma família é a discórdia. Quando pais, filhos e irmãos começam a brigar, a firma cai. Então penso que o segredo da longevidade de uma empresa é a união dos fundadores com os herdeiros”.

Assim como outras mulheres que desempenham os papeis de mães, esposas e empresárias, Thereza Tondo ocupa uma posição estratégica dentro da família e da empresa. É nítido o quanto sua razão e sensibilidade, aliadas ao propósito profissional e ao comprometimento com o trabalho e com a educação dos filhos, foram fundamentais para o alicerce da família e do negócio. Seu Dalvino encontrava nela apoio e segurança. “Ele confiava em mim, no meu trabalho. Conseguimos criar os filhos, dar uma boa formação a eles e ajudar os netos a se realizarem na vida. Meu papel foi de mãe e orientadora, procurando ser ética e correta. Não faltou carinho e amor. Acho que a recompensa por ter sido um pouco rígida é o respeito e o amor que sinto que eles têm por mim”, avalia.

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