Entrevista: Michelle Squeff, coordenadora do Capítulo RS do IBGC

Para aprofundar o assunto sobre mulheres na alta gestão, a revista VOA entrevistou Michelle Squeff, coordenadora-geral do Capítulo Rio Grande do Sul do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), para conhecer iniciativas relacionadas à diversidade em conselhos de administração. O IBGC – organização sem fins lucrativos – contribui para o desempenho sustentável das organizações por meio da geração e disseminação de conhecimentos das melhores práticas em governança corporativa.

Qual a sua análise sobre a diversidade de gênero nos conselhos de administração de empresas brasileiras em relação a outros países?
A diversidade de gênero nos conselhos de administração das empresas brasileiras ainda caminha a passos lentos. A publicação Brasil Board Index 2019, da Spencer Stuart, aponta para uma evolução tímida, embasada na pesquisa realizada desde 2015 e que, em 2019, contemplou mais de 186 companhias listadas no Novo Mercado, N1 e N2. Como resultado, observamos que o percentual médio internacional de mulheres em conselhos de administração é de 24,1%. No Brasil, esse percentual é de 10,5%, ou 8,2% (se excluídas as suplentes). Se considerarmos apenas as conselheiras titulares não pertencentes ao grupo controlador, o percentual cai para 6,2%. Além disso, 53% dessas empresas não têm mulheres no board, quando a média internacional é de apenas 17%. Outro dado interessante é o número de mulheres que já realizaram o curso de conselheiras de administração do IBGC. Desde o ano 2000, já passaram por ele mais de 6.500 pessoas, sendo 1.282 mulheres. Na comunidade de conselheiros certificados do IBGC, composta por 1.143 pessoas, 192 são mulheres.

Como o IBGC pretende mudar ou já está mudando esta realidade? Existe alguma ação específica do Capítulo Rio Grande do Sul?
No âmbito nacional, o IBGC criou um Comitê Diversidade em Conselho, que mantém um programa de mentoria para conselheiras pelo qual já passaram quase 150 mulheres desde 2014. Em 2020, se encaminha para a quinta edição. O programa é gratuito e é realizado em parceria entre o IBGC, a B3, a International Finance Corporation (IFC) e a WomenCorporateDirectors (WCD). Inspirado por esse movimento, em 2018 o Capítulo Rio Grande do Sul do IBGC lançou o Fórum de Mulheres em Conselho, iniciativa idealizada por mim e também por Doris Wilhem, Lires Bilibio e Rose Russowski, reunindo 30 mulheres em sua primeira edição. O grupo se dividia entre conselheiras já atuantes em organizações de diferentes portes e segmentos e uma futura geração de conselheiras. Na segunda edição do Fórum, em 2019, o grupo cresceu e passou a contar com 45 mulheres. A pauta dos encontros foi variada e contemplou as grandes temáticas que orientam a atuação de conselheiros de administração, sempre combinando teoria e prática e promovendo dinâmicas interativas. Em 2020, o Capítulo Rio Grande do Sul pretende ampliar o alcance e impacto desse grupo: além dos encontros da terceira edição do Fórum, estão previstas ações de advocacy em prol da causa da diversidade em conselhos a partir da elaboração de um banco de talentos para promover ações concretas, visando o aumento do número de mulheres em posições de conselho.

Em termos de inscrições, como vem sendo a participação das mulheres nos cursos de conselheiros de administração realizados pelo Capítulo Rio Grande do Sul?
Em 2016, dos 44 inscritos, seis foram mulheres. Em 2017, tivemos 48 inscritos, sendo 14 mulheres. No ano seguinte, também foram 48 pessoas inscritas, oito delas mulheres. E em 2019, os cursos de conselheiros de administração tiveram a participação de 46 pessoas, sendo nove mulheres.

Diante das iniciativas do IBGC, quais resultados você considera mais perceptíveis?
As iniciativas do IBGC já surtiram resultados no Rio Grande do Sul. Conectamos conselheiras de todo o Estado nos encontros do Fórum, promovendo um networking qualificado que, inclusive, ensejou oportunidades de negócios e vagas em conselhos. Integrantes do Fórum fizeram a formação para conselho de administração do IBGC e, em 2020, pretendem obter a certificação como CCI – Conselheiras Certificadas Independentes do Instituto. O número de associadas do IBGC-RS cresceu significativamente desde a primeira edição do Fórum, em 2018. Temos um total de 41 associadas no Capítulo Rio Grande do Sul, sendo que 11 delas se associaram em 2019. Também sensibilizamos a comunidade gaúcha para a causa. Com as ações previstas para 2020, esperamos novos resultados, concretizando os objetivos do grupo de modo a consolidar um banco de dados com as conselheiras do Estado, incentivar a formação e desenvolvimento de mulheres como conselheiras de administração e aumentar o número de conselheiras certificadas no Rio Grande do Sul.

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