Competência financeira dos herdeiros deve ser desenvolvida

Gabriela Marcon
gabi.marcon@idefamiliar.com.br


Para falar mais sobre educação dos filhos para administrar o patrimônio, a revista VOA também conversou com a consultora financeira Elena Susin, profissional com mais de 30 anos de experiência neste mercado. Em Caxias do Sul, ela é instrutora do módulo sobre responsabilidade financeira do programa “Jovens do Futuro – Capacitando a Nova Geração”, desenvolvido pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC). “Eles aprendem a compreender conceitos sobre economia que irão contribuir para a construção de uma base equilibrada na relação entre o dinheiro e o consumo consciente, em busca de uma vida financeira saudável”, afirma. Em 2019, 28 jovens com idades entre 15 e 18 anos participaram do programa.

A formação econômica do sucessor e a competência financeira são pilares que devem ser desenvolvidos. “É fundamental que os herdeiros deem continuidade ao trabalho que os provedores fizeram, pois eles ergueram um patrimônio que os filhos têm a responsabilidade de cuidar”, avalia Elena. Conforme ela, a maioria dos jovens sucessores não busca aprender sobre finanças de forma natural, no seu dia a dia, sendo raras as exceções em que eles têm a iniciativa de se aprofundar no tema. Para contribuir com esta deficiência, o ensino escolar também não traz em sua grade curricular conteúdos sobre finanças, deixando, assim, uma lacuna no conhecimento dos jovens sobre educação financeira. Elena considera, ainda, que a visão da responsabilidade financeira é, na verdade, parte de um contexto em que há carência de aprendizado na população de várias classes sociais. “Mesmo nos ambientes onde há mais conhecimento, muitos jovens não sabem o que é, por exemplo, inflação e o quanto isso pode impactar a curto e a longo prazo no seu patrimônio”.

A consultora financeira aponta que uma das formas de zelar pelo patrimônio já adquirido pelos fundadores é olhar para o mercado financeiro como um aliado, buscando entender sobre taxas de juros, metas de inflação, políticas econômicas, enfim, conceitos básicos de economia que farão a diferença na tomada de decisões sobre gestão de patrimônio. Compreender sobre os diferentes tipos de investimentos que o mercado financeiro oferece para fazer o seu patrimônio crescer é essencial em um cenário em que as taxas de juros atuais são as menores praticadas nos últimos anos na economia brasileira. “Os sucessores precisam ser protagonistas de suas histórias, adquirindo conhecimento, estudando, buscando informações ou, até mesmo, uma assessoria de profissionais nesta área de gestão de patrimônio para a conquista de melhores resultados”, ressalta.

Aspectos como o consumo consciente e o entendimento de que é possível e necessário tomar crédito em algum momento da vida, desde que isso seja analisado da forma correta e compreendendo a finalidade da utilização do recurso, devem estar na pauta da família. As diferentes linhas de crédito disponíveis no mercado financeiro irão atender às diversas necessidades da família. Porém, elas precisam ser negociadas de forma consciente e com total conhecimento das cláusulas de um contrato. “Em algumas situações é melhor adiar a decisão de consumir algo que precisa ser adquirido com financiamento e, a partir desse contexto, passar a ter responsabilidade no sentido de que os filhos podem, eles mesmos, começar a administrar seu patrimônio”, complementa Elena, que ensina lições básicas que têm como ponto de partida o diálogo entre pais e filhos. “Acredito na questão do poupar, no consumo consciente, para depois investir o seu dinheiro. Desde criança, é possível começar a entender que existe diferença entre poupar, economizar e investir dinheiro. Poupar é guardar parte do que se ganha. Economizar significa não gastar desnecessariamente. Investir é buscar uma remuneração para a reserva conquistada.”

Na visão de Elena Susin não existe uma idade definida para começar a educar os herdeiros em relação ao uso do dinheiro, pois isso parte do convívio entre as pessoas de um núcleo familiar, desde os primeiros anos de vida, de uma forma construtiva e prazerosa, e não como sendo algo difícil de entender. “O dinheiro é um instrumento de troca, então ele deve ser entendido como algo simples de ser tratado, e não algo místico. Normalmente, ninguém quer falar quanto se ganha e quanto se tem, mas as pessoas vivem e têm projetos e objetivos juntos”, analisa.

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