Gestão do Negócio: De pequena propriedade rural à grande empresa de logística

Gabriela Marcon
gabi.marcon@idefamiliar.com.br


Uma grande família com uma pequena produção rural. Dessa forma, João Silvestrin define o início de seu trabalho na agricultura junto aos pais e irmãos no município de Farroupilha. Reforçando que o incentivo familiar em relação aos estudos foi fundamental para o seu desenvolvimento profissional, o empresário que vislumbrou no kiwi um produto próspero, também criou um negócio especializado em importação e exportação de frutas que hoje está entre os maiores do segmento no Brasil.

“Aprendi que trabalhar sozinho é mais difícil. É preciso buscar pessoas que tenham sintonia com o seu pensamento e a sua visão de negócio, e manter o foco no crescimento. Nesse sentido, é importante que o dinheiro que se ganha seja reinvestido. Quando os interesses dos sócios estão dispersos, o negócio enfraquece”, afirma o empresário João Fernando Silvestrin, 60 anos, que muito tempo antes de começar a trabalhar com logística e transporte de frutas foi seminarista e cursou duas faculdades: Filosofia e Direito.

Nascido em uma família de produtores rurais, ele tem nove irmãos, dentre os quais dois também são sócios-fundadores da Silvestrin Frutas – hoje um grupo de seis empresas, com 550 funcionários, matriz e filiais localizadas em dois estados brasileiros (Rio Grande do Sul e São Paulo) e no Distrito Federal, e faturamento anual próximo aos R$ 400 milhões.

Ao relembrar do início de seu trabalho no ramo da agricultura, o empresário destaca o fator educacional. “A família transmite princípios que norteiam a nossa conduta e nos mantêm alinhados. A vida nos abre janelas que, às vezes, parecem ser importantes, mas não estão de acordo com aquilo que acreditamos. E são os valores que nos colocam no rumo”, ensina. Ele conta que os pais enxergavam nos estudos uma alavanca para desenvolver os filhos. “No verão, além de estudar, a família inteira ficava em casa, ajudando eles na colheita da uva, nada de praia. Éramos uma grande família com uma pequena produção rural”.

Aos 23 anos, Silvestrin começou a se envolver, de fato, com as questões relacionadas à agricultura no âmbito dos negócios. Isso ocorreu quando ele assumiu a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Farroupilha. Na entidade, o então produtor rural organizava viagens para fora do Brasil com agricultores da região, para conhecer a atividade do cultivo de frutas em países como Chile, Uruguai e Argentina.

Foi no Chile que ele e o irmão enxergaram que o kiwi era originário de uma região parecida com a Serra Gaúcha. Por volta de 1989, eles decidiram que iriam trabalhar com aquela fruta exótica, até então inexistente no Brasil, e importaram 10 mil mudas chilenas. O projeto era substituir as parreiras pelo kiwi, que era muito valorizado à época. “Observamos que cultivar mudas para comercializar era viável não apenas para a nossa família, mas também para outros agricultores”, revela. No primeiro ano, um erro técnico causou a perda de toda produção de 50 mil mudas e, consequentemente, de um ano de trabalho. “Foi um desastre. Até plantar a muda novamente, esperar amadurecer, colher, vender e ganhar dinheiro demoraríamos muito tempo. Então resolvemos trabalhar também com a fruta”.

A primeira carreta do Chile, com 22 mil quilos de kiwi, chegou em Farroupilha no ano de 1991. Para Silvestrin, o que fez a família tomar a decisão de iniciar este negócio foi o estado de necessidade, de querer melhorar as condições de vida. “O kiwi era novidade, vimos nele um produto próspero, com que poderíamos ter uma boa fonte de renda”, conta. Com o passar do tempo e os negócios crescendo, os irmãos adquiriram um box na Ceasa em Porto Alegre e começaram a importar outras frutas, como maçãs do Chile e da Argentina. Havia chegado a hora de aprimorar a gestão e constituir, de fato, uma firma. “Nossa ideia era criar um negócio especializado em importação de mudas e frutas com a condição de que ninguém seria remunerado. Vivíamos de outras economias. Chamamos outro profissional, de fora da família, para tocar a parte comercial”, afirma.

A matriz da Silvestrin Frutas foi na casa do irmão. Depois, eles negociaram a compra de meio hectare de área de um vizinho para construir a estrutura e comprar equipamentos adequados para armazenar os produtos. Já com a empresa criada, o empresário recorda de um acordo que fez com os irmãos. “Nunca misturamos o dinheiro da empresa com o dinheiro pessoal. Quando você faz uma boa venda se vê com a possibilidade de receber um bom dinheiro, mas dentro do nosso planejamento a empresa distribuiu resultados para os sócios apenas a partir de 2003. Antes disso, passamos a receber dois salários mínimos, que reinvestíamos no negócio”.

Conforme o empresário, os filhos só irão assumir cargos de gestão se estiverem preparados para isso, apresentando resultados. Atualmente, a empresa está reestruturando a gestão do negócio, que inclui o desenvolvimento de novas lideranças. A filosofia e a missão continuam as mesmas desde a fundação, em 01/12/94: dentro do segmento de frutas há um mundo a ser explorado. As frutas comercializadas pela Silvestrin têm três origens: local (Rio Grande do Sul), de outras regiões brasileiras (principalmente o Nordeste) e do exterior. A empresa já exporta caqui para o Canadá, sendo que a previsão para 2020 é a de negociar cerca de 140 toneladas. Anualmente, são importados três milhões de quilos de kiwi do Chile, da Nova Zelândia e da Itália, incluindo cinco variedades.

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