Arte e gestão empresarial: uma nova perspectiva para pensar o mundo dos negócios

Em um contexto de crise de paradigmas, de valores e, por que não, da própria humanidade, as disciplinas da área de Ciências Humanas têm muito a contribuir na busca por soluções. Entre essas disciplinas está a arte – um campo do conhecimento capaz de despertar e desenvolver o espírito crítico, o senso estético e a criatividade. Quando aplicada ao mundo dos negócios, a arte ajuda a modificar o olhar; transforma a perspectiva de executivos e empreendedores; estimula o pensamento criativo e muda os modelos mentais preexistentes. Afinal, é como destaca o principal pesquisador do tema no Brasil, o professor Ricardo Carvalho, da Fundação Dom Cabral (FDC):

“O mundo dos negócios é um ambiente cartesiano. A arte, quando inserida nesse contexto, ajuda a abrir perspectivas e a criar valores diferenciados”.

A relação entre a arte e o ambiente organizacional tem sido objeto de estudo de algumas das melhores escolas de negócios internacionais mundo afora. Cambrigde realizou parcerias com escolas de design e publicidade; Harvard lançou o projeto Artfull Thinking Program; Stanford criou o Institute for Creativity and Arts e, no Brasil, em Minas Gerais, a Fundação Dom Cabral (FDC) optou por levar os participantes dos programas de Desenvolvimento de Executivos para aulas a céu aberto no Museu de Arte e Ofício de Belo Horizonte e no Instituto Inhotim, em Brumadinho.

Inhotim/Divulgação

Localizado em Brumadinho, a 55 km de Belo Horizonte, o Instituto Inhotim abriga o maior museu a céu aberto da América Latina

O professor Ricardo Carvalho é quem guia os alunos da FDC nessas aulas. Autor de uma pesquisa sobre a inserção da arte na educação de executivos, ele explica que a arte é o centro dos processos humanos – porque as pessoas não conseguem ficar impassíveis diante dessa experiência. De acordo com ele, assim como o ambiente das organizações, a arte obriga a desafiar, a classificar e a antecipar tendências. “É preciso soltar as amarras da criatividade para repensar um homem em um novo espaço que possa conter a sua imaginação”, destaca o professor em suas palestras. E complementa:

“Artista é o indivíduo que desenvolve ideias, sensibilidades, habilidades e imaginação para criar trabalhos bem proporcionados, habilidosamente executados, imaginativos, independentemente do ambiente em que trabalha. Maior título que se pode dar a alguém é o de ‘ser artista’ naquilo que faz, independentemente de sua profissão. Nesse sentido, a educação deve ser concebida como a educação de artistas”.

Com base nos estudos desenvolvidos na FDC, Carvalho afirma que a performance empresarial dos líderes de hoje está descolada da experiência dos sentidos – e argumenta que, cada vez mais, será preciso usar o lado direito do cérebro, responsável, entre outras tarefas, pela criatividade (leia mais sobre o tema em O Cérebro do Futuro).

O professor cita Paul Schoemaker (2009), especialista em inovação da Wharton School, para argumentar que existe, atualmente, a necessidade e o desafio de buscar abordagens em que os gestores aprendam a conviver com o paradoxo e com os dilemas – situações que nunca podem ser totalmente solucionadas. Outra referência citada por ele é o professor da London School of Economics, do Massachusetts Institute of Technology e da New York University, Richard Sennet, para quem a gestão contemporânea pressupõe que o gestor identifique onde está acontecendo algo importante, leia os sinais e tenha atenção focal nas dissonâncias cognitivas; questione sempre, de forma a viver em estado incipiente de permanente curiosidade e se abra, dando saltos intuitivos e fazendo as coisas de forma diferente.

PROF. RICARDO CARVALHO FALA SOBRE ARTE E GESTÃO

A EXPERIÊNCIA NO INSTITUTO INHOTIM

Arquivo pessoal

Folly (2005-2009), de Valeska Soares. Cercada por um nostálgico jardim, a obra provoca uma experiência de introspecção e envolvimento através da dança, resgatando emoções que nos fortalecem para superar as adversidades da vida executiva.

“A arte é o casamento do ideal e do real. Artistas são artesãos, mais próximos dos carpinteiros e dos soldadores do que dos intelectuais e dos acadêmicos”.
(Camille Paglia, ensaísta norte-americana)

Caminhando por um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e maior centro de arte ao ar livre da América Latina é possível dar aos olhos uma oportunidade singular de ver e, principalmente, de reaprender a ver. A experiência de visitar Inhotim está em grande parte associada ao desenvolvimento de uma relação espacial entre arte e natureza, onde cada obra traduz um elemento que, no dia a dia das organizações, muitas vezes passa despercebido.

As obras a céu aberto fazem de Inhotim um convite ao despertar desses sentidos. A arte contemporânea destrói nossas barreiras, as castrações reais e imaginárias. Nos provoca e nos faz participar. Assim como na arte, as organizações contemporâneas precisam surpreender, provocar o belo, desafiar o status quo, antecipar tendências, ver o que não é dito, perceber o que o que não é aparente.

Inhotim/Divulgação

True Rouge, 1997, Tunga. Desde meados dos anos 1970, o desenhista, escultor e ator brasileiro Tunga cria obras de um imaginário exuberante, associadas a uma compreensão da arte como um campo multidisciplinar. Apresenta o equilíbrio frágil, dinâmico e cíclico que existe em toda a sociedade e nas organizações empresariais.

Uma empresa que conseguir fazer do seu ofício uma arte está à frente do seu tempo, se transforma e gera transformação. A arte de combinar ideias aparentemente não relacionadas e criar algo inédito é o desafio que as organizações e seus executivos terão que se propor para sobreviver.

Inhotim/Divulgação

Ttéia1C (2002) é uma obra da última etapa da carreira de Lygia Pape. O título faz alusão à teia, tear, costurar. O efeito da luz nos feixes dourados revela delicadeza, um convite ao afeto, aos sentimentos mais humanizados, abrindo caminho na busca do equilíbrio necessário para o sucesso.

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 SAIBA MAIS SOBRE INHOTIM
COMO CHEGAR: De carro ou ônibus (há ônibus e vans que saem da Loja Inhotim Savassi e da Rodoviária de Belo Horizonte).
HORÁRIOS: 9h30 às 16h30 (de terça a sexta-feira) e das 9h30 às 17h30 (sábados, domingos e feriados).
INGRESSOS: R$ 25,00 (terça a quinta), gratuito (quartas, exceto feriados), R$ 40,00 (sexta, sábado, domingo e feriados).

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