Muitas vezes a participação das mulheres nos negócios familiares permanece invisível, apesar de elas desempenharem um papel importante em muitos aspectos. Pesquisas apontam que é a mãe, utilizando suas habilidades naturais de acolhimento e afetividade, que na maioria das vezes marca a tendência das relações familiares.
Nesse sentido, é indiscutível a afirmação de que as mulheres realizam contribuições substanciais e positivas para o êxito da continuidade das empresas familiares, gerando impacto nos negócios. Elas fomentam a união, a harmonia e o equilíbrio emocional da família – e isso ajuda a empresa a superar os novos desafios. Em geral, as mulheres possuem um forte sentido de lealdade à empresa – e à família -, além de se mostrarem sensíveis às necessidades individuais de cada um de seus membros.
Ainda que frequentemente um “gigante invisível”, conforme palavras de Christine Blondel em seu livro Las Mujeres y la Empresa Familiar: funciones y evoluciones, a mulher desempenha diversos papéis na empresa familiar. É possível destacar três grandes dimensões na qual ela está inserida:
TRANSMISSÃO DE VALORES: é muito importante o papel da mulher na transmissão dos valores familiares, em especial enquanto mães.
FORMAÇÃO DAS PRÓXIMAS GERAÇÕES: as mulheres podem modelar as atitudes dos filhos com respeito ao trabalho e à riqueza. Nesse sentido, a mulher tem um papel fundamental ensinando-lhes as virtudes essenciais e a busca da felicidade de maneira adequada.
GARANTIA DA LIDERANÇA EMOCIONAL: a mulher é a principal guardiã das emoções. Também é a grande promotora da igualdade e da cooperação entre os membros da família. Como esposa e mãe, espera-se que tenha uma visão ampla e profunda das relações família-empresa e entre pais e filhos, conhecendo as capacidades e atitudes de cada um. Por essa razão sua intervenção é desejável e muito útil na elaboração do protocolo familiar e da criação do conselho da família, por exemplo.
Essas três dimensões explicam porque a mulher tem um papel chave nos processos de sucessão. Por um lado, aporta uma visão complementária a do homem. Por outro, seu instinto permite ser de grande ajuda em momentos de crise ou quando surgem conflitos na família. A mulher, muitas vezes, atua como mediadora entre as gerações e ajuda a evitar que as filhas sejam tidas como “transparentes”, ou seja, não sejam vistas para assumir posições de comando nas suas empresas ou fazer parte dos processos sucessórios.
Também é possível destacar que a participação da mulher na empresa familiar cresce na medida em que aumenta o tamanho da empresa, já que quando a empresa cresce são necessárias novas estruturas como reuniões familiares e conselhos. Neste momento, é indispensável integrar as novas gerações e os seus cônjuges – o que muitas vezes tem sido muito bem conduzido pelas mulheres. Porém, toda evolução supõe novos desafios e oportunidades de desenvolvimento, entre eles:
COMUNICAÇÃO: como esposas, em muitas ocasiões elas não possuem informações sobre a empresa e a situação do negócio. Para que a contribuição da mulher seja efetiva, é necessário que ela também entenda a direção que o negócio pretende seguir;
PROCESSO FORMATIVO: como filhas, netas e sobrinhas, muitas vezes as mulheres não assumem postos de trabalho dentro do negócio, mas são colocadas automaticamente na condição de acionistas. Nesse sentido, é necessário educar e preparar as mulheres da família para se realizarem como profissionais independentes e também se prepararem para ser acionistas.
CONCILIAÇÃO TRABALHO E FAMÍLIA: como mulher e membro de uma empresa familiar frequentemente é difícil encontrar o equilíbrio entre a vida familiar e o mundo profissional. É importante que toda mulher comece a se conhecer para descobrir sua missão pessoal e o que lhe faz feliz.
Além disso, as mulheres que fazem parte de uma empresa familiar precisam descobrir e desenvolver suas fortalezas, aquelas que as fazem únicas e com as quais fortalecerão tanto a família como a empresa familiar.
Os desafios dos gêneros estão mudando pouco a pouco. A sociedade está começando a reconhecer formalmente a importância da mulher no mundo empresarial, onde suas contribuições sempre foram relevantes, mas que por muitas décadas permaneceram em segundo plano. Cabe às mulheres estarem preparadas para esse movimento. Não só como suporte para as relações familiares, como efetivamente como gestoras do negócio, assumindo seus papéis, competências e habilidades de maneira a contribuir para a longevidade das suas empresas familiares.
* Adaptação do texto publicado pela Cátedra de Empresa Familiar. Autoria de Lucia Ceja. IESE Business School, Newsletter n.38, Setembro/2008. Leia o texto completo aqui.