Em tempos de Lava Jato, de grandes escândalos e crises, incluir a reflexão sobre ser ou não ser compliance na vida e nas organizações é lançar um novo desafio para 2018. Ser compliance é agir em conformidade com regras e legislações, orientando-se pelos valores éticos e morais da sociedade em que vivemos e da empresa em que trabalhamos.
O que nos impede de cumprir regras, de não ser compliance? Estudos do economista comportamental Dan Ariely sugerem que podemos ser influenciados de uma forma não compreendida por nós mesmos. Excesso de pressão para o cumprimento de metas, racionalização das ações, capacidade de fazer algo, oportunidade e disposição ao risco são variáveis que impactam a honestidade do indivíduo.
Geralmente superestimamos nosso comportamento ético. Ações não conformes, muitas vezes, são praticadas por pessoas “boas” que se tornam eticamente cegas pela pressão do contexto e do tempo. Escândalos corporativos em muitos casos acontecem porque são apoiados por pessoas bem-intencionadas. Nesse caso devíamos lembrar a frase de Immanuel Kant: “Tudo o que não puder contar como fez, não faça!”
Desculpas para condutas ilícitas são usualmente ouvidas: “Eu não sabia que era corrupção”; “Não estou fazendo isso para benefício próprio, mas por minha empresa”; “É assim que se faz negócio por aqui” e tantas expressões buscam explicar o que não tem explicação.
Um estudo feito em 2015 pelo ICTS (auditoria e consultoria em gestão de risco e compliance), sobre o perfil ético dos profissionais brasileiros, revela que 66% dos indivíduos aceitam uma irregularidade dependendo das circunstâncias, 28% não aceitam e 6% sempre aceitam! As respostas foram justificadas pela tendência em pensar em si e não nos outros, falta de compromisso, mau exemplo da liderança e visão distorcida sobre os impactos de tais ações. O fato é que o caráter do indivíduo é que faz a diferença na hora de escolher ser ou não ser compliance, as variáveis externas e o grupo não deveriam ser os responsáveis pelas nossas escolhas. O caráter molda a maneira de agir e de reagir, é uma escolha individual que nos caracteriza como indivíduo.
“Escândalos corporativos em muitos casos acontecem porque são apoiados por pessoas bem-intencionadas”
Porém, apesar de nos surpreendermos diariamente com as notícias nas esferas política e empresarial, existem programas estruturados de Compliance, Leis Federais e Normas de Sistemas de Gestão que se propõem a orientar e reconhecer esforços de empresas comprometidas com a prevenção e o combate à corrupção e fraudes. São publicações como a regulamentação da Lei Anticorrupção, o Programa de Integridade Pró-Ética do Governo Federal, o Estatuto da Empresa Jurídica e Sociedade Mista e as Normas ISO 19600:2014 e 37001:2016.
Todos esses recursos estão disponíveis para as empresas, mas são os indivíduos (acionistas, fundadores e gestores) os atores principais desse movimento que precisam querer agir em conformidade.
Os compromissos com a ética e a integridade devem ser expressados através do exemplo da alta direção. O estabelecimento de políticas, a capilaridade da informação alcançando todos os níveis da organização e o aporte de recursos para um sistema de gestão são evidências irrefutáveis da intenção legítima de ser e estar em compliance.
Estudos comprovam que empresas que atendem aos requisitos de compliance são mais produtivas. A corrupção “come” riqueza e práticas éticas “geram” riqueza. Consumidores críticos preferem empresas éticas. As não éticas perdem valor no mercado, pois os custos vão além do financeiro, impactando na reputação ao expor a sua imagem. Também é fato que programas de compliance atenuam penas para empresas que praticaram corrupção.
Diante disso tudo, podemos considerar que compliance é a base para um negócio próspero e sustentável que atende à demanda de transparência nas relações corporativas. Ser compliance na vida é ser compliance nas organizações. É tomar decisões a partir de preceitos éticos e morais, considerando os reflexos na sociedade, no meio ambiente e nas partes interessadas, visando sempre ao bem comum.
Artigo originalmente publicado no caderno especial Mais Serra, do Jornal Pioneiro